post scriptum tecnicozinho
Retiremos pois a verificação de palavra nos comentários, pelo menos até que eu parta em viagem e não cá esteja para apagar cruelmente anúncios de vital importância para as vossas vidas.
Retiremos pois a verificação de palavra nos comentários, pelo menos até que eu parta em viagem e não cá esteja para apagar cruelmente anúncios de vital importância para as vossas vidas.
escrevinhado por kanuthya no momento 11:34 PM 8 escrevinharam
A leitura era acompanhada de angústia, convinha terminar logo. É que a sempre referida depressão do Holden espreitava-me a cada linha. Sendo a minha (e de muito mais gente, naturalmente) relação com livros visceral, alguns há que me provocam danos mais ou menos permanentes. Experimentei um atrofio inédito lendo A Convidada, de Simone de Beauvoir, uma mini-depressão com Os Demónios de Dostoievsky (sigo ordens médicas e só leio russos - bem, na verdade, quase qualquer autor do leste europeu - muito espaçadamente), e pesadelos horrificantes com Beloved, de Toni Morrison, mas a esta última regressarei em breve e sempre, é uma questão de pele e amor.
Nada de tão sério com The Catcher in the Rye, (em Portugal primeiro traduzido como Uma Agulha no Palheiro e , mais recentemente em reedição renovada, À Espera do Centeio). Num livro com linguagem simples, reconheço a dificuldade em traduzir o título, mas...Uma Agulha no Palheiro??? Tenham juízo, pá. Vêem? Holden pegou-me a intolerância que tanto combato. Falho, na esmagadora maioria das vezes.
Existe somente algo que não irrita Holden na vida, as crianças são as únicas que escapam do seu adjectivo favorito - tudo é "phony" (hoje em dia algo preterida em relação à variante phoney), só crianças lhe arrancam sorrisos, a ele que tem dezasseis anos.
(tira de Annette, em www.vskole.com)
Quando o questionam sobre o que realmente desejaria fazer na vida, apenas uma coisa lhe ocorre - desejava ser o catcher in the rye, num jogo de apanhada num campo de centeio, desejava ser quem os apanhava e impedia de cair no abismo que limita o campo de centeio.
(catcher in the rye, Diana Bryan)
escrevinhado por kanuthya no momento 4:56 PM 7 escrevinharam
A década em que nasci nunca me parece demasiado longínqua. Atravessava então Manu a ponte quando figura de negro vestida a pára, mira-a nos olhos e pergunta,
Posso ler-lhe a mão, senhora?
Eu não lhe posso pagar.
Há tristeza na resposta, nesta simples resposta que se dá a tantos que nos procuram vender objectos indispensáveis - rosas de papel que nunca morrem, tapetes orientais feitos em Alcochete - originais, minha senhora, tecidos à mão como já não se vê por aí - Timex de cinco euros e meio. E há a sina, também.
Não me pague, não quero. Só lhe quero ler a mão.
Manu estende-a. De mãos pouco sabia, só que se um dia as unhas ficassem roxas a sua morte estaria para breve. Nisso enganou-se, Manu clarividente, posso garanti-lo, pois conhecia-a, vi-lhe unhas púrpura e viveu ainda muitos anos. Mirou também ela nos olhos aquela sua irmã de adivinhação, senhora de artes diversas.A ela, Manu, os presságios chegavam através dos sonhos.
Leonel guardava distância das duas fêmeas. Narradora sou, mas não saberei dizer ao certo que lhe ia no pensamento. Para elas não olhava, disto estou segura, não é de ficar observando os outros. Ter-se-á distraído com algum pássaro, quiçá, bufando impaciente pelo contratempo que o detivera. Ele segue o relógio, tem horas precisas para tudo. Sei, porém, o que pensou às primeiras palavras da cigana, que escrutinava as linhas na palma de Manu.
Há bem pouco atravessou as águas, veio de longe. E deixou tudo atrás de si.
Consigo, apesar de não ter lá estado, vislumbrar o sorriso irónico de Leonel - ora, estamos sobre a ponte de Santa Clara, e atravessamos as águas todos os dias...
Manu, contudo, escutou uma verdade absoluta. Fugira da guerra noutro país, deixando tudo para trás, e ali chegara viajando sobre as águas muitos dias. A curta espreitadela na sua vida registada na pele da mão bastou-lhe para, daí em diante, ter com os ciganos uma relação ímpar. Mais tarde, enquanto outras senhoras faziam avisos terríveis aos netos sobre aquela gente que recusava lei e roubava os meninos maus que não comiam a sopa, Manu parava com a neta pela mão para ter longas conversas com as ciganas que encontrava pela cidade.
Tantos anos depois, Manu, estou bem mais a sul desse rio que atravessavas com o Leonel. Falta já pouco para que deixes o corpo que nos serve de vestido nesta vida, e que por vezes tanto nos pesa.O frio é dilacerante esta manhã, num Alentejo conhecido pelo seu calor. Busco o café, este sim, quente, que me trará para este mundo depois da noite mal dormida. Aproximo-me da janela. O campo está vestido de geada branca. Há somente uma árvore, debaixo dela dois cavalos, cobertos com mantas.
Chegaram os ciganos, Manu, uma vez mais, perpétua caravana. Tapam os seus cavalos de noite, deles dependem para andarilhar mundo afora. O chefe do pequeno clã já preparou a fogueira, acompanham lá de fora o meu ritual e tomam o seu café. Há crianças nuas correndo indiferentes ao frio. Também eu não sentia frio em criança.Aqui estivesses, Manu, pularias para a carroça que em breve partirá, sentar-te-ias ao lado da mulher, e partilharias clarividências.
*texto originalmente publicado em http://herzog.splinder.com, sob o título de Gli Zingari.
escrevinhado por kanuthya no momento 1:51 PM 2 escrevinharam
Fugindo por momentos aos grandes mestres e seus honrados seguidores na arte do acordeão, acordeon, sanfona, concertina, fisarmonica, creio ainda popular em Portugal a figura do acordeonista que anima os bailes populares, anunciado em cartazes de cores berrantes, afixados nas montras de qualquer tasca e mini-mercado que se preze.
No tempo de meus avós (e ainda de meu pai, quando ele em criança passou um tempinho em terras lusas), a rainha do instrumento era a senhora dona Eugénia Lima. No Algarve era particularmente apreciada. Ora não é o acordeão o instrumento mor dos tradicionais corridinhos? Pois é. Em Albufeira o Zé era assíduo dos saraus de Eugénia Lima. Permanecia em êxtase enquanto a então jovem Eugénia manuseava teclas, botões e foles, executando com primor a sua arte. Terminado o sarau e recolhidos os aplausos pela diva, o Zé confidenciava então, a quem estivesse a seu lado:
- Que "habulidadi" no dedo! Que linda mulheri para mim...
Memória traz memória, dela somos feitos. por isso, recordei também
algo escrito já há algum tempo - http://quiromancias.blogspot.com/2005/06/confisso.html#links
(imagem: grupo Danças Ocultas, www.attambur.com)
escrevinhado por kanuthya no momento 1:43 PM 3 escrevinharam
escrevinhado por kanuthya no momento 2:49 PM 1 escrevinharam
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Danças Ocultas - Escalada
Escutado pela primeira vez no Festival músicas do Mundo. Chorei baba e ranho o tempo todo, mas foi de pura felicidade
escrevinhado por kanuthya no momento 2:01 PM 11 escrevinharam
sinto falta de ouvir o lobitanga Jorge Perestrelo:
pedindo aos jogadores que comessem muita moamba para aguentar a corrida,
antecipando a ripa na rapaqueca
perguntando ao jogador que falha qu'é qué isso ó meu?!
aconselhando os hipertensos: ponha o comprimido debaixo da língua, aguenta coração!
exclamando feliz: é disto que o meu povo gosta!
opinando: até eu com a minha barriguinha fazia melhor...
apelando: Nha Nossa Senhora!
setenciando guarda-redes: frango dos antigos, com penas e direito a cacarejo,
e tantas, tantas outras coisas...
Para quem quiser recordar:
http://www.tsf.pt/online/common/include/streaming_audio.asp?audio=/2005/05/noticias/07/memoria.asx
escrevinhado por kanuthya no momento 3:00 AM 5 escrevinharam
Os especialistas são unânimes: é você que deve ser o líder da matilha, e não o cão.
Hum, pela reacção, o Bengo não se fia na opinião de qualquer um.
- Queres fazer o favor de olhar para mim quando falo contigo?
- Errr, o que estavas a dizer, mesmo?
- Oh pá, deixa-te de conversas!
- Pronto, está bem...
- Ele é tão querido quando brinca... eh pá, mas aquilo não é o meu ursinho?!
- Oh minha, aqui o que é meu, é meu, e o que é vosso é meu. Que parte não compreendes?
escrevinhado por kanuthya no momento 1:15 PM 11 escrevinharam
escrevinhado por kanuthya no momento 1:16 PM 5 escrevinharam
escrevinhado por kanuthya no momento 4:07 PM 5 escrevinharam
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Gal Costa - Antonico
Quando era pequenina meu pai tocava esta canção e tentava fazer-me acreditar que eu sabia cantar. Era difícil, mas ele era muito paciente nessa tarefa, ao contrário do que acontecia quando me explicava os números e a minha mente vaguevava em sons e palavras. Havia um debate contínuo: segundo o especialista, a minha voz era feita para agudos aventureiros. O pior é que eu queria era mesmo cantar com voz grave e profunda. Acho que no processo as minhas cordas vocais tomaram vergonha na cara. Eu, entretanto, ajudei-as a evitar possíveis danos auditivos passando a fumegar.
escrevinhado por kanuthya no momento 1:02 AM 1 escrevinharam
escrevinhado por kanuthya no momento 3:06 PM 5 escrevinharam
adormecer ao som das ondas
recolher conchas e búzios que o mar já deixou na areia
traçar fios coloridos em telas finas de pano
acariciar cachorro atrás da orelha
mesclar sabores em panelas grandes e servi-los a pessoas que amo
pão quente de forno de lenha com manteiga
deixar caneta de aparo fluir livremente no papel
cheirar terra molhada após enchurrada
escutar cuíca e berimbau
deixar derreter na boca leite condensado (ou leite moça. como se diz na minha terra) cozido
cheirar coentros
nadar no mar, sem roupa ainda melhor
escrevinhado por kanuthya no momento 9:06 PM 19 escrevinharam
escrevinhado por kanuthya no momento 4:34 PM 0 escrevinharam
escrevinhado por kanuthya no momento 1:27 PM 4 escrevinharam