Tuesday, January 30, 2007

gagged, or an implicit list of complaints


Falou bem o Mega Ferreira referindo-se a Pessoa (a propósito da presença do mesmo nos dez finalistas para o programa O Maior Português de Sempre): escreveu sobre tudo, rigorosamente tudo. O que pensava, fazia-o escrevendo.
Quanto fico aquém. Uma inércia cristinina. Aqui, porém, soma-se a censura auto-imposta pelos olhares indiscretos. Olhares que não foram convidados pelo meu, mas sugeridos inadvertidamente, sem malícia. O cozinhado está pronto. É sempre possível adicionar-lhe sal quando o sentimos insosso. Quando o sal é demasiado, porém, não há muito a fazer, a não ser preparar água para lavar papilas gustativas.
Há algo bloqueando também o fluir destas letras em particular. Tenho uma necessidade absoluta de música para ilustrar alguns tópicos. Será simbiose ou parasitismo meu, que a maior parte das vezes recordo ou conjecturo através dos sons que me oferecem os músicos?
Enquanto a questão não se resolve, os sons ficam só em mim. E eu gosto de partilhar.

Saturday, January 27, 2007

give some love

Este venerando senhor chama-se Tejo. A foto foi roubada, mas por uma boa causa.
Circulam pela internet muitos pedidos falsos de ajuda, que nos enchem a caixa de correio electrónico, com pedidos sempre urgentes de sangue de tipo raro, de dadores de medula, de emails em cadeia que devem ser enviados a um número grande de pessoas para que os progenitores de uma criança doente possam receber dinheiro proveniente dos servidores de internet. A esmagadora maioria é fraude.
Há, no entanto, muita coisa a fazer, até na internet, se quisermos ajudar algumas causas.
Em breve estarão aqui links onde o poderá fazer.

Hoje peço somente que visite o site www.sosdosanimaisdemoura.com, que acolhe neste momento 133 cães, dos quais apenas 17 estão apadrinhados. Todos eles aguardam também adopção. A instituição atingiu um ponto grave, correndo sérios riscos de ter de encerrar.
Sei que poderá estar fartos de apelos. Muitos destes animais, além de abandonados ou rejeitados por não servirem os propósitos para que foram adquiridos, foram maltratados. Há muito que pode ser feito. Pode ser sócio por apenas 1, sim, leu bem, 1 euro por mês. Pode apadrinhar um animal, toda a alimentação para um mês custar-lhe-á 12 euros. Se viver na região, pode voluntariar-se para ajudar a tratar destas gentis almas.
Eis o link do tópico aberto num dos foruns da Companhia dos Animais, onde poderá conhecer melhor a dura situação vivida por esta associação e, oxalá, escolher levar um destes seres maravilhosos consigo, ou, se tal não for possível, pelo menos ajudar.
Bem hajam.

Friday, January 26, 2007

despir o olhar





Esta era a vista da varanda. De Verão, certo, admitamos. Em plena pujança da folha.


Há dois dias que sou despertada pelo som inconfundível de uma moto-serra. No Inverno passado podia ter-se dado uma desgraça na propriedade por trás da residência, com a queda de árvores durante tempestades que assolaram a região. O verde era tão intenso no meu campo visual que nem no Inverno eu havia vislumbrado a casa que se escondia por trás de venerandos pinheiros cuja idade não me atrevo a imaginar.


Imagino que terão bons motivos - sobretudo de segurança - para cortar as - creio - centenárias árvores, mas não deixa de me doer. Muito mesmo.


Agora, pelo menos por enquanto está assim...


Tuesday, January 16, 2007

Sophie's Choice


Raras vezes prolonguei tanto uma leitura amada. É certo que o livro é relativamente extenso, mas o stretching foi consciente, destinado a alongar o prazer da leitura. Um raro caso em que a adaptação cinematográfica é magnífica. No livro, porém, e como seria de esperar, fico a conhecer muito melhor Sophie, as suas outras escolhas em tempo de terror. Terror que não termina com desembarques heróicos, com libertações de campos. Terror gravado na pele, muito além de números no pulso.
Já no final, acrescenta-se um outro meu terror. O vocabulário de Styron é rico, pleno de lemas pouco comuns no inglês coloquial, assim como de termos em outras línguas, yiddish, alemão, francês. Surge-me então algo que me faz piscar os olhos, já incerta do funcionamento de neurónios a hora tardia, preocupada com a escassa luz. Terei lido bem? "auto de fé", escreve Styron. Sou confrontada depois com o que me é dito ao lado, "deve ser espanhol, naturalmente". Não. Não é. Fé não tem acento em espanhol. É portuguesa, a expressão. Consequência de leituras impressionantes que terá feito sobre a Inquisição lusa. Porque muitas leituras fez sobre a perseguição já milenar a um povo. Como a muitos outros. Elie Wiesel recorda-nos o que foi dito aquando da revelação ao mundo dos horrores dos campos de concentração da Guerra II. Já não há numeração romana que valha à catalogação de horrores. Disse-se, na altura: Never again. Há que divulgar e conhecer, ousar tentar, apenas tentar, compreender. Um pouco que seja. Para não repetir. Para aprender.
Não adiantou de nada.
Continua. Não noticiado. Todos os dias. Aqui, por exemplo, www.darfurgenocide.org/.

Tuesday, January 09, 2007

O que os ventos trazem



Não, não é o projecto espacial russo.

É mais uma maravilhosa iniciativa movida pela energia eólica deste


Como não amar o vento, ainda que gélido, violento, seco ou quente, quando é ele que empurra as barcas pelo mar afora? O meu mar, como sabem.

Navegar é preciso.

Sunday, January 07, 2007




Bem hajam os carrinhos de bagagem nos aeroportos. E bem hajam os gajos que fazem as gajas sorrir perante o desabar do lugar comum do excesso de bagagem associados a gajas. Gosto de desconstruções e mudanças de paradigma.


Nas férias sempre caóticas há que parar obrigatoriamente em salas de cinema. Porque neste país há pouca coisa em língua original. Muito pouca. Ficam além do alcance da minha pessoa quiçá que obras primas em japonês, coreano, chinês e por aí adiante.


Acabei por não ir ver um dos dois filmes que tinha anotado como "obrigatório ver em tela gigante", a saber, Babel. Mas paguei bem cara a obrigatoriedade deste:






Cometi pecado mortal tendo de interromper por um bom quarto de hora, ou mais, já nem sei, tentando evitar um deslocamento de retina ou desperdício de jantar (absolutamente delicioso, no Psi, restaurante vegetariano lisboeta, junto do Hospital dos Capuchos, com direito a jardim e cascata zen).


A sala tem um écran absolutamente gigante. Foi giro. Os outros sorriam perante a gaja a sair às pressas- olha, esta não aguenta a violência - e eu fula da vida, repousando olhos lá fora, fumegando - obviamente, cigarros portugueses - ah, lamento imenso, mas gosto muito de fumar. So, shoot me... bah. Mas, oh gaja, então num cinema com tanto lugarzinho livre, não teria sido muito mais simples mudar de lugar, para a parte mais anterior da sala? Teria. Se a parte anterior não fosse a área VIP, que fornece serviços indispensáveis como champagne por uma quantia do caraças. Podiam é enfiar o disclaimer nos bilhetes da área normal: Não nos responsabilizamos por eventuais danos ópticos durante a visualização do filme. Porra para as modernices, quero uma sala de cinema à antiga, pelo menos já vou avisada, e desde que não me sente por baixo do balcão (área adequada a audazes e masoquistas, com direito a eventuais escarradelas e papéis variados - com sorte você apanha com o papel que embrulha a pastilha super gorila, e não com a dita cuja - , vejo o meu filme descansadinha da vida. Ainda assim sou uma afortunada, tenho em casa uma tela deliciosa.


Excelente filme - aca, nunca mais lá chegava. Publicidade enganosa de trailers e promotores. Não, não é lançada teoria àcerca dos últimos dias da civilização maia. A história foca a vida de um homem. Um. Da sua mulher. Do filho pequeno e do vindouro. O fim dos maias? Vemos barcos castelhanos ao largo da costa. E pensamos num misto de terror e algo que não chega a ser alívio que no karma colectivo os espanhóis têm talvez mais horrores a purgar, tendo alcançado a proeza horrífica de, em algumas regiões, não terem deixado uma só alma para contar a história. Os portugueses não agiram de forma muito diferente. Provavelmente. Triste. Pesado.
Questionei-me por instantes se o catolicismo do realizador influenciou a crueza com que mostrou os maias. Deve ser paranóia minha. Provavelmente.

Na minha pausa forçada fui tirando fotos ao delicioso cenário kitsch, a saber:
(Sim, a fotografia está torta, naturalmente. também eu estava, e de que maneira....)

(Chiça, esta era de facto escusada...)

Os outros dois filmes no post seguinte.