Wednesday, October 27, 2004

Cala-os

Reparou ontem ao final da tarde. Há discos do Milton que tocam sem parar, canções que falam da sua terra vermelha que seca em minutos após enxurrada, dos seus orixás, de peles aquecidas por um sol que não se digna a aparecer neste lado do mundo.
Bem pode agora encher paredes de máscaras e panos, usar o colar zulu, pensar que ainda terá dupla nacionalidade, depois de tantos anos em busca de si, do que era, da sua terra, de ver o fim de uma lista publicada com seu sobrenome, elaboradinha por gente séria, que lhe veda a entrada no pseudo-país. Assim se disfarça uma ditadura, inclui-se a palavra Social, e por que não Democrata, senhores, no partido que vive na cidade grande. Os meninos catam contentores de lixo dos restaurantes onde ufanados cavalheiros comem santolas gigantes, enquanto as esposas da escol vão pentear-se à Isabel Queiroz do Valle, assim mesmo com dois éles, não numa sucursal aberta no terceiro mundo, mas em Lisboa, pois claro.
Olha, vês este passo, este passo exacto da canção, vê só como foi toda escrita para ti - cala a boca desse mundo.