Sunday, March 08, 2009

hoje

Quem me conhece sabe bem que não sou de datas. Este poema, porém, enviado por uma querida amiga, é tão belo que não fica para amanhã.
Fazias anos hoje, E. E eu, que não sou de datas, como sabes, até me lembro disso.

Hoje,
Só canto para as Mulheres:

As que passam na rua,
Aquelas que não saírem
Para a rua, as que se encontram
Na cozinha, no escritório,
Ao balcão, na enfermaria,
Na cadeia, no convento,
Na escola, no gabinete,
Na empresa, no sindicato,
No campo, no parlamento,
No lupanar ou na igreja,


Orientando o tráfego dos homens,
Chorando o filho morto pelos homens
Ou o filho feito à força pelos homens,
Lavando a roupa suja dos seus homens
Ou consertando os nervos rebentados,
Pelo silêncio-garra dos seus homens,


Essas Mães inconsoláveis
das Praças todas de Maio,
As mães de inocentes mortos
às ordens de homens-herodes,


As mães fiéis junto às cruzes
Que homens-pilatos ergueram,
Mulheres, Mães, virgens-loucas
De todos os noivos-machos,
Primas, amigas, vizinhas
De casa, de luta e sonho,
De raiva, de crença e vida,
Companheiras, inimigas,
Minhas irmãs, minha Mãe.


São Mulheres? Hoje basta.
É dia oito de Março:
Dia de eu pagar a renda
à Mulher-Mãe desta casa
Para onde há muitos anos
Mudei ao deixar a sua.
Por isso é que eu hoje canto
Só para as Mulheres: na rua
Ou noutro lado qualquer.


Salve, Mulher e Mãe! Amén!
E seja o que Deus quiser.


Lopes Morgado