Tuesday, June 06, 2006

Fora de Tempo Roubado de Um Qualquer Janeiro - Manias (categoria sem numeração, seria perda de tempo)




Pegado à pele está, como outros vícios, o de escrever a lápis. Este parece-me acentuado por vulnerabilidade ainda maior, este claro cinza tão fácil de apagar. Como sempre, o começar foi-se adiando, diluiram-se as tontas resoluções de ano inaugurado. No meu caso, esta tinha sido a única resolução imaginada. Deve ser grave, falhar na única coisa imaginada. Quando pensava em começar a traçar os riscos carvoeiros, somava-se à anterior uma resoluçãozinha mais feliz. Não os desabafos tristes, que se desvanecem na manhã do corpo repousado. Mas triste de verdade terá sido supor que podia decidir ordenar palavras fugindo de assuntos, impondo barreiras, cortando liberdades. Criaturinhas que habitais dentro de mim, se quiserdes pois falar, que vos flua liberdade no frágil bico, quando o corpo rasa o razoável e a mente extenua nas noites sem descanso, a que já não estava habituada, de sonhos tão vívidos e sobressaltantes que o momento de dormir se torna simultaneamente desejado e temido. Aparentemente domina o medo. Faz-me falta escutar a voz que me lembrava da proximidade de Deus. Havia então um calor diáfano, um conforto maior. Ter-me-ei vendido a uma companhia aparente? Odeio a própria questão. Mas é bom colocar questões que nos atormentam e que desprezamos.
(imagem: pencilpages.com)

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