Sunday, August 28, 2005

-ismos para cá, -ismos para lá


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Originally uploaded by Kanuthya.

Quando se aproximava a data de eleições, quaisquer que estas fossem, a avó fazia a sua costumeira visita à prima, imagem matriarcal na família, apesar de não ter sido mãe, mas suspeito que com afilhados pelos cinco continentes. Aquela senhora enorme, instalada num cadeirão respeitável, recebia ao longo do dia, tal Godfather, um séquito de gentes que lhe buscavam os conselhos, bençãos, ou amena cavaqueira acompanhada de merendas copiosas trazidas pela criada de tempos antigos, daquela que vive uma vida inteira na mesma casa, servindo as diferentes gerações da família. Hoje em dia a palavra é pouco agradável, mas era adequada, se bem que ali a senhora governa. estou certa que teria achado muito bem ser vista como governanta da casa.

Todas as tardes de escutava o terço pela rádio naquele lar tradicionalista. Até que vinha a avó, com o seu elogio ao comunismo, garantindo que o seu voto iria para os seus camaradas. Creio terem sido as únicas vezes em que assisti ao rosto daquela prima-avó encher-se num vermelhão nervoso, tal a urticária que a terminologia lhe causava, e ao pavor de ter na família uma vergonha daquelas. As facções políticas tinham um peso muito diferente então. Tão diferente que recordo, noutra parte da tribo, um amigo de família que se munia da caçadeira cada vez que Cunhal aparecia no écran a preto e branco. Assim foram dois aparelhos de televisão para a sucata, até a esposa se ter convencido que era melhor não voltar a investir na tecnologia, naqueles tempos conturbados de suposta instalação da democracia.

1 comment:

Carolina said...

E eu visitava o meu avô.
Era de noite e vários velhotes se inclinavam para uma "telefonia" ouvindo baixinho (para a vizinhança não se aperceber)a Rádio Moscovo.Tudo com um ar tão conspirativo que me assustava, por nada entender.
A minha avó inclinada para a chaminé, fazia o chá de ervas em cafeteira de barro.