Em que momento caiu esse véu sobre ti, em que momento puseste o primeiro pé, sem timidez de quem avança em terreno incerto, num umbral escuro, labiríntico, em que se misturam os tempos e se perdem fios condutores de enzimas, circuitos mentais cintilantes que não são medidos com tomografias. Avançaste e revoltei-me, gritei, agarrei-te com força violenta que não costumas ver em mim, tentei puxar-te, na ignorância súbita causada por um amor profundo que nos acompanha desde que voltaste ao corpo, nesta vida. Não te pude reter, e seguiste numa barca pelos meandros mais escuros, vendo o que eu adivinhava mas não me atrevia a nomear, por ter imaginado e esperado que coisas assim podiam acontecer aos outros mas não a ti. Não a ti.