Tuesday, November 01, 2005

L.

Falo-te baixinho, num sussurro tão cuidado que até tu, livre que és dos fios que nos prendem à terra, até tu poderás não escutar. Eles dizem que nesta noite a fronteira é ténue, sabes? É verdade, dizem-no. A ideia que essa fronteira fosse ténue em todos os outros dias assusta-os? Precisam de datas. Datas para soprar velas, datas para empilhar prendas, datas para se lembrarem do que fazem por esquecer todo o ano, datas para levar flores a pedras frias, datas para serem solidários. A casa quer-se arrumadinha. O calendário não lhe poderia ficar atrás. Deixa, não precisas responder. Peço-te desculpa por perturbar o silêncio de paz em que te encontras. Escrevo-o sentindo que não é aí que te encontras ainda. E na impertinência que me guia dirigindo-me a ti, peço: visita os teus em sonhos e toca-lhes as faces, para que sintam que o calor da tua doçura não se esgotou.

(angel of the courtyard, by Liz Allen, 2002)

1 comment:

Carolina said...

Gostei!