Wednesday, August 10, 2005

pés descalços e dendém



Aos Domingos de manhã enfiavam-lhe os sapatos que magoavam, ainda para mais depois de passar pelo adro da igreja, onde minúsculas pedrinhas se enfiavam da forma mais improvável, cravando-se na pele. Assim que o padre findava a homilia, fugia para casa, sapatos na mão, chegando antes dos outros para se refugiar na cozinha, onde se ia lambuzando com as bolinhas de funge, moldadas pelos dedos mais vividos da bá, entregando-se toda ao prazer de as molhar no dendém que encharcava a galinha, desfeita de tanto boiar naquela profusão de aboborinha e quiabos. Não engolia de imediato, concedendo ao palato o prazer da mescla de sabores. Quando a tribo que partilhava a sua cor de pele chegava empoeirada pelos caminhos, sacudindo os chapéus domingueiros, já o estrago estava feito, restava esfregá-la com sabão de côco para tirar essa mancha odorosa e amarela, que se faz nos cachos das palmas.

2 comments:

Carolina said...

Cheirosas e paladosas memórias!!!
Ai África Minha!(Quer dizer...tua).

Anonymous said...

Sapatinhos domingueiros que fazem prevalecer o prazer de estar descalço.