Wednesday, June 22, 2005

In viaggio IV

O avô Amado, de nome estampado nos documentos que nos exigem nas burocracias da vida, e de coração, trocou-se todo nos dias de registo e baptizados da sua prole, de forma que o nosso devido apelido familar se perderá. Há quem na família se tenha mexido para recuperar o sobrenome, temerosos que estavam pelo arrancar abrupto de palavra tão auspiciosa. Se as palavras têm tal poder e força, não se admite que lhes tivessem tirado logo essa, parece mau agoiro.

O Amado fez-me um carrinho de madeira e verga, onde eu inchada colocava um chorão que havia sido da minha mãe. Não pude dar outro nome ao boneco já algo desbotado dos sóis tropicais, teve de ser Bochechas, tal era a semelhança que apresentava com aquele senhor que eu via na televisão a preto e branco.

É uma sorte danada ter gente habilidosa e criativa a rodear-nos nos anos primeiros, os brinquedos à mão feitos esbateram as coisas más, que apagá-las não se poderia nem deveria fazer. Moinhos de vento para trazer na mão, correndo por um terraço encantado e que eu via como gigantesco, mobílias em miniatura, presépios únicos, os mais belos que vi, tudo isso fazias, Amado. Deste-me sonhos para encher uma data de livros, fora os segredos que te povoam e que não deixarás registados, por serem só teus.

3 comments:

Carolina said...

Da minha infância,o que lembro mais, são as histórias do primo Luís!
Leu no blog? (Em 10 de Abril de 2005?

Anonymous said...

...é um amor esse teu Amado; eu tenho um cândido, mas nunca se questionou sobre o sentido do seu nome!!

Anonymous said...

Eu queria ser uma Amada nas estórias da infância dos teus filhos, meus ansiados sobrinhos (e -as)