Tuesday, June 07, 2005

In viaggio III

Fecha os olhos. Estás de novo na Avenida João das Regras, e perguntas-te se é esse o nome e porque te veio tao rapidamente à mente, sem que contasses incluir estes detalhes. Tens uma mão na tua, dedos modificados por acidente de trabalho, dizem eles. Não sabes na altura o nome dessa avenida que te leva à ponte, e que fazes sempre pelo lado direito, ele deixa-te caminhar o possível em cima de um muro baixo, os outros não deixam, mas ele é demasiado lunático para se preocupar, as crianças caem, e erguem-se, é normal. Já sabes que as folhas de árvore que se penduram no teu muro te deixarão as mãos, braços , rosto cobertos de vermelhão comichoso. Ele também o sabe, se é que se lembra de tais pormenores mundanos, sempre ausentes da sua mente que vagueia por espaços maiores, não há recantos para alergias, anti-histamínicos, cirurgias reconstrutoras de dígitos serrados, cálculos de anestesias. Bastarão umas bolas de algodão embebidas em álcool na pele em formação. Leva-te sempre aos baloiços, leva-te um saco com pão para os patos do parque, corre contigo para o trólei. Deixa-te brincar a equilíbrios precários em murinhos velhos de quinta abandonada. E deixa-te sempre tocar as folhas.

1 comment:

Carolina said...

Descobri o poeta do sabiá!
Segue nas Sardinheiras.