Monday, October 30, 2006


Estes gajos devem andar por aqui. Poderia dizer, como uma senhora que conheci, que quando o homem está em casa nem as panelas lhe fervem (ela reduzia a influência ao espaço da cozinha, sejamos sinceros), mas estaria a arranjar desculpas esfarrapadas. A culpa é da empresa acima mencionada, claro. Desculpas a emails não respondidos, comentários-resposta atrasados ou inexistentes. From next week on, hopefully, abnormality will be replaced.

Wednesday, October 25, 2006

stat rosa pristina nomine, nomina nuda tenemus

(imagem do site da Difel, editora que não deixa de me desgostar com as pobres revisões de texto... a minha capa é diferente, anterior a esta... gostaria de pensar que os erros ortográficos desapareceram)

Como foi bom voltar a esta primeira incursão de Eco pelo romance. Mistério aliado a livros, Idade Média, pedras góticas, semiótica esculpida - tivesse eu lido e relido este livro com desconfiança à partida, teria sido uma batalha perdida certamente, seria díficil não gostar. Revisito-o passados quinze anos desde a primeira vez. Sigo crendo que as coisas têm vida própria, e muito se devem divertir à nossa custa quando não as estamos mirando. Marquei algumas páginas ao longo da (re)leitura, certamente por desejar revisitar passos quem me tocavam de modo particular. No entanto, e como frequentemente me acontece, ao tentar agora a revisitação, sou impedida de encontrar as considerações que meus neurónios falíveis teceram nesses momentos. Fica um trecho que o globo ocular reconheceu muito bem. Quanto aos outros, devem estar a passear-se noutros pontos do livro, trocando-me as voltas, conspiração que executavam cada vez que eu fechava o volume e visitava Morfeu.
"Até então tinha pensado que cada livro falava das coisas, humanas ou divinas, que estão fora dos livros. Agora apercebia-me que, não raro, os livros falam dos livros, ou melhor, é como se falassem entre si (...), a biblioteca (...) era portanto o lugar de um longo e secular sussurro, de um diálogo imperceptível entre pergaminhos e pergaminhos, uma coisa viva..."

Tuesday, October 24, 2006

for the time being


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try a little tenderness - Otis Redding

Uma das poucas coisas que consegui salvar do castpost.

Friday, October 20, 2006

diálogo com alguém que julgava não desejar a clausura



- Partes, como de costume, de uma premissa errada.
- Como assim?
- Sofres somente por ti, nunca verdadeiramente pelos outros. Sempre, e só por ti.
- Não é verdade.
- Devias ter partido para uma ilha deserta. Nem cão levarias. Assim, não te davas com ninguém, não conversavas com ninguém, não vias ninguém. Não vivias lutos, não perdias pessoas, oportunidades, sonhos, autocarros que passam indiferentes ao teu acenar. Ninguém te podia ofender. É essa a solução, em última análise. És a pessoa mais egoísta que conheço.
- Porque digo que me doem demais os lutos, ainda mais aqueles de pessoas que continuam vivas?
- Também. Por tudo.
- Mas não sofremos sempre em primeiro lugar por nós mesmos?
- Claro.
- Então em que sou tão detestavelmente diferente?
- És igual. A única diferença é acreditares realmente que és diferente.

Wednesday, October 18, 2006

À Procura de Sana


Este livro é viva prova de algo em que creio profundamente. A vida é por vezes muito mais surreal do que qualquer romance da dita corrente. Tinha saudades de ler Zimmler, e aumentou a vontade de ler o que dele ainda não conheço. O que me fascina na sua escrita não é propriamente o seu estilo per se, mas o olhar e coração. Preguei tanto, e ultimamente ainda mais, o diálogo, e no entanto dou por mim levando seriamente em consideração a conclusão, extremista aos olhos de tantos, de uma das personagens. Talvez por vezes o diálogo seja impossível, quando já se atravessaram linhas demasiado importantes e sagradas, quando tanto sangue já foi derramado, tantas palavras gritadas. Talvez a ausência, o afastamento do outro tenha de imperar. Durante algum tempo. Não posso crer que acabo de escrever isto. E que me sinto tentada a acreditar realmente nisto.







Monday, October 16, 2006

desconversão desconseguida

Ouvira por todo o lado da falta de reconhecimento pelas dádivas da vida. Tecto, calor providenciado pela natureza ou criado pelo homem, comida de levar à boca, água de saciar garganta seca, mãe, pai, irmãos, os restantes, os queridos e os nem tanto, os bons dias recebidos na rua, a possibilidade de acordar a cada manhã, ter pernas que a levassem a destinos segundo a sua vontade, mão de estender ao próximo, dedos de entrelaçarem dedos. Parecia haver até quem encontrasse amor e passasse por ele, com ele, através dele, para ele, sem um pensamento de graças. Não seria assim, não seria ingrata, sorriria de cada vez que visse uma minúscula flor romper o cimento, cada vez que o sol lhe amornasse a pele, reconhecida por cada gota de vida que lhe fora concedida. Agradeceu ter recebido o Amor.



Por isso, quando a vida escureceu, iniciou uma longa carta a um deus, diringindo-se-lhe sem maiusculizar qualquer letra incial, maiúscula só a raiva. A carta cresceu ao longo dos anos. A ira foi-se movendo, ora submergindo, ora irrompendo de águas coléricas e turvas, marés vivas que lhe rasgavam a pele dos dedos que escreviam, e a deixavam meses a fio largada como despojo trazido pelo mar. Uma bóia. Uma mancha de alcatrão. Um pedaço de cordame que não serviu para segurar barca. Caco de vidro verde ainda cortante, indiferente ao moldar macio da água.

Ameaçou o deus com canções de amores infelizes, tragédias de faca e alguidar

se acaso me quiseres sou dessas mulheres que só dizem sim.

Nunca lhe ocorreu enviar a carta, distraída que estava ao escrevê-la das suas ameaças de desconversão, pois nem por um momento imaginou que o deus não a estivesse lendo em tempo real. Nunca lhe ocorreu também agradecer ainda assim a vida vivida, o corpo e alma vividos, depois tudo de pernas para o ar, e a memória de lágrimas escorrendo pelo mero observar do sono do outro, que a ira nunca conseguiu apagar.

Thursday, October 12, 2006

consideraçõezinhas técnicas



Errr...

Pois é, desde que mudei para a versão beta ( nota para amigas falantes de português do Brasil, em Portugal "beta" ´significa também patricinha :) ), torna-se evidente o aspecto positivo de o blogger não ser alguém com pescoço que me tente vampirescamente. Esganava-o, provavelmente. Gosto da adição de temas, etiquetas, mas deixei de poder carregar aqui a minha música. Não me interessa poder colocar aqui links consoante a possibilidade, e o castpost permitia-me colocar aqui a MINHA música. Ainda aparecerão dois ou três posts musicados, que por sorte já tinha transferido para o blog e guardado como rascunho. Se usam blogger e ainda não mudaram para a versão beta, saibam que o terão de fazer mais cedo ou mais tarde. Além da questão musical, a minha barra lateral de links e afins passou-se, o rapaz tem dificuldade em processar correctamente alguns caracteres e acentos latinos...

Isto tudo para dizer que tentarei fazer algumas mudanças, e que se entretanto tudo desaparecer, foi bom ter-vos conhecido :)

cartas por enviar




Há cartas escritas para que nunca sejam enviadas. É assim. E é talvez um espectáculo degradante de auto-comiseração, falta de coragem ou, por oposição, algum bom senso.
Escrevemo-las devido ao nosso instinto de sobrevivência. Porque as palavras, aquelas palavras, não podem, não devem, não conseguem permanecer ali por mais um segundo que seja. Têm de fluir, seguir um curso, que seja tortuoso, que importa, os rios acabam por ir dar com o mar, por muitas curvas que encontrem no caminho, apesar do Zé Mário Branco dizer no seu FMI que o rio chega a São Pedro de Moel e nunca consegue desaguar, mas essa é uma outra história. O bom senso impede o envio quando o coração teme que as palavras sejam demasiado duras. Ou definitvas. Ou que cortem cerce qualquer esperança.

Monday, October 09, 2006

tagged

Via Jo Ann



Pega no livro que se encontrar mais próximo de ti, vai até à página 18 e transcreve a quarta linha.
"Depois de perder propositadamente uma partida, reteve-o para outra." (A Incrível e Triste História da Cândida Eréndira e da sua Avó Desalmada, de Gabriel García Márquez)


Qual foi a última coisa que viste na televisão?
Notícias contam? Vejo mais coisas "gravadas", a última foi um episódio do Star Trek Voyager.

Sem verificar, que horas são?

20h30m

Confirma, são...

Wow! 20h33m (Quem me conhece sabe o motivo da minha surpresa...)

Além de ruído do computador, que escutas em teu redor?
Notícias... O Lula bla bla...

Que fizeste a última vez que saiste?
Fui jantar a um restaurante da Córsega. Os grelhados com molho de pimenta verde recomendam-se vivamente.


Que tens vestido neste momento?
Um vestido longo de malha em tons azuis.

Antes de responderes a este questionário, que estavas a ver?

O progresso da minha pirataria inócua e o correio electrónico.


Sonhaste esta noite?

Bastante. Com uma pessoa que não sei se continua viva. Veio ajudar-me, creio. espero que o tenha feito através do seu sonho, e não de outro local.

Quando riste pela última vez?

Ontem, ao ouvir uma gravação da Bandamecos, mais concretamente do Top do Miguelito. Sempre que ouço o Carlos Bastos a cantar choro de tanto rir. Aquilo não pode ser real. All that fado...

O que tens nas paredes da divisão em que te encontras?

Imagens emolduradas a preto e branco, uma de um porto de pesca para me lembrar de mim própria, a outra de gaivotas num areal e o mar revolto como fundo, uma composição de conchas feita por mim e... hum... ah, um quadro abstracto cheio de azul.

Viste algo estranho hoje?

Não separo muito o que vejo em sonhos do resto, logo, sim, bastante estranho. Além disso, a minha barriga.

Se ficasses multimilionária do dia para a noite, qual seria a primeira coisa que comprarias?

Incrível o tempo há que estou especada a olhar para esta pergunta, sem saber o que responder... Não estou certa de que isso seja negativo. Porra. Livrava pessoas que amo de alguns encargos; entrava numa livraria de minha eleição e saía de lá carregada sem culpas; abria casas de acolhimento e educativas em Angola.

Diz-nos algo que não saibamos.
As coisas que gostaria de escrever ficam guardadas para outros locais. Infelizmente tem de ser assim. Ah, francamente, Kanuthya, tens sempre de ser tão melodramática? está bem, pronto.Uma ou outra pessoa que lê isto já sabe, mas sou emetofóbica.

Se pudesses mudar algo no mundo além da culpabilidade e política, que mudarias?

Errr...culpabilidade? Algo me escapa. Para mudar tem de envolver política. Paz. Paz. Paz.


Qual o último filme que viste?
Hostage.

Que pensas deste questionário?

Tenho um fraquinho secreto e detestável por questionários...


Gostas de dançar?
Muito, mas só o faço em ambientes em que me sinta muito confortável. Quer dizer, pelo menos desde que deixei de consumir álcool.

George Bush ?
Eu disse que era emetofóbica...

Que nome darias a uma filha?
Clara.

E se fosse um rapaz?

Pedro.

Já pensaste em viver no estrangeiro?
Como é que uma pergunta tão simples pode ser retorcida por esta gaja...De certa forma, fui viver para o estrangeiro bem pequenina. Felizmente apaixonei-me por esse estrangeiro e ele tornou-se no lar possível. Já vivi fora sem pensar antes nisso, não houve tempo, como sucedeu também com a experiência actual. Mas nunca antes um estrangeiro me foi tão estrangeiro.

Que gostarias que Deus te dissesse à entrada do paraíso?

Vá lá, custou, mas valeu-te não te queixares muito. Agora segue em frente, estão ali os teus que vieram antes de ti, e não me esqueci do teu pedido, estão lá também os cachorros e toda a bicharada. Nada de moleza, porque daqui a algum tempo voltas. E não, não aceito subornos.


Que 4 pessoas poderão responder a este questionário nos seus blogs?

Ñão faço a menor... quem quiser.



Saturday, October 07, 2006

O Anjo Mudo, Heinrich Böll



Logo na primeira página visualizo, acompanhando o olhar da personagem, o anjo que dá título ao livro, coberto de fuligem das vidas desmoronadas. Tem na mão um lírio. Antes de pegar neste belíssimo livro, imediatamente antes, os meus olhos haviam tropeçado numa gravura de Gabriel, o arcanjo, segurando lírios.
um anjo como que amordaçado e soterrado em cinzas de destruição que o rodeiam recebe hans no seu regresso a uma Colónia que tem dificuldade em reconhecer. O protagonista tenta limpá-lo. Talvez precise acreditar que os anjos permanecem, apesar de tudo.

Wednesday, October 04, 2006

Abrir os olhos. Pensar.


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Haiti


Quando você for convidado pra subir no adro da Fundação Casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos
E outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se olhos do mundo inteiro possam estar
por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque, um batuque com a pureza de meninos uniformizados
De escola secundária em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada
Nem o traço do sobrado, nem a lente do Fantástico
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém
Ninguém é cidadão
Se você for ver a festa do Pelô
E se você não for

Pense no Haiti
Reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

E na TV se você vir um deputado em pânico
Mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo
Qualquer qualquer
Plano de educação
Que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
do ensino de primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua
sobre um saco brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
diante da chacina
111 presos indefesos
Mas presos
são quase todos pretos
Ou quase pretos
Ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres
E todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba

Pense no Haiti
Reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

Caetano Veloso/Gilberto Gil

Monday, October 02, 2006

Estórias de Dentro de Casa

Foi este senhor que escreveu.

(Germano Almeida)


São três novelas, In Memoriam, As Mulheres de João Nuno e Agravos de Um Artista.




Esta é a tal casa do título, o Mindelo. Lá estão, reais e tangíveis, o Monte Cara de fundo das escapadelas conjugais da primeira estória, o Xê Nu onde se bebem copos e se escutam sons únicos, a boite Je T'Aime onde se bamboleiam moças.

Sonho com estas ilhas há muito tempo. Um conhecido meu, cuja opinião devo por força maior levar muitíssimo em conta, garantiu-me ser este o único local no mundo em que não tinha encontrado racismo. E outro ainda, como já creio ter escrito neste caderno de notas desorganizado, confidenciou-me a sua felicidade por a sua terra linda ser pobre, escapando a cobiças guerreiras.